Sendo comemorado hoje o Dia da Cosnciência Negra, trago a vocês um
pouquinho sobre a história deles em nosso Estado. O Rio Grande do Sul,
dentre as províncias brasileiras, foi uma das que recebeu o menor número
de escravos, uma vez que o negro africano não se adaptou ao clima e nem
aos misteres da criação do gado.
Sabe-se que os primeiros escravos, que chegaram ao Rio Grande do Sul,
vieram com os tropeiros e sesmeiros para trabalharem nas estâncias,
currais e condutores de tropas para Sorocaba. Depois, em 1737, os
primeiros colonizadores portugueses, quando fundaram, o forte Jesus –
Maria – José, na barra de Rio Grande, também os trouxeram.
No Rio Grande do sul, o negro também foi comprado como mercadoria,
através do Porto de Rio Grande. Depois, foram traficados e escravizados,
em maior número, pelos próprios produtores de carne seca, nas estâncias
de gado (Pelotas) e nos primeiros municípios.
Os negros foram povoando a província do Rio Grande do Sul ao lado dos
índios, paulistas, lanceiros e aventureiros. Nas charqueadas, os negros
trabalhavam duramente e muito padeceram os piores castigos. Dormiam em
senzalas, eram chicoteados por feitores e não agüentavam o serviço de
matar o boi e salgar a carne por muitos anos.
Já nas estâncias, como peão de gado, de cavalo, tiveram tratamento mais
brando, com menos desumanidade, que nas charqueadas, mas não escaparam
dos serviços pesados e da crueldade de alguns fazendeiros, como conta a
lenda "Negrinho do Pastoreio".
Foram bem melhor tratados, mas realizavam as tarefas mais árduas das
fazendas. Os negros, como peões de fazendas, tiveram uma vida mais
amenizada, mas, no entanto, foram os carregadores das pedras e os
construtores dos muros delimitadores das extensas fazendas da fronteira
gaúcha, pois o arame só surgiu após a Guerra do Paraguai, e as divisas
da época eram as árvores, rios lagoas.
Mais tarde, diante da disputa por terras e gado, os estancieiros
resolveram fazer cercas de pedras e mangueirões. Muitas casas dos
municípios da fronteira e as próprias estâncias foram construídas pelos
escravos. A maior parte dos escravos foi libertado pelos movimentos
abolicionistas, que surgiram, na província, em 1884. Em maio de 1888,
havia poucos escravos.
Em Pelotas, por ser o grande centro das charqueadas, foi o maior foco
escravista do Estado. Os negros foram tratados com muita rudeza.
Segundo Maestri, a historiografia não faz referências, especificamente, a
quilombos no Rio Grande do Sul. Quando registra a existência de algum, o
faz rapidamente, e apenas de passagem, sem maiores explicações ou
comentários.
Mas sabe-se, que os negros fugiam e se organizaram em quilombos nas
campanhas. O tipo de quilombo que se rapidamente e raramente é citado é o
"quilombo pastoril", localizado nas campanhas povoadas pelo gado
chimarrão. Os negros abatiam o gado selvagem, extrair o couro, os
chifres e outros acessórios para vendê-los aos aventureiros portugueses
ou castelhanos. Abrigavam nos seus quilombos, brancos e índios, mas
mantinham o controle da comunidade e do processo de produção.
O gaúcho foi o tipo étnico e social produzido por tais quilombos. Mais
tarde, quando a técnica do aproveitamento da carne para o charque levou
os portugueses e castelhanos a se utilizarem das pastagens, os negros se
refugiaram nas campanhas mais escondidas, e dedicaram-se à criação de
gado.
O professor Mário Osório Magalhães acredita que, na primeira charqueada,
já trabalhavam negros escravos, quando montada às margens Arroio
Pelotas, por José Pinto Martins.
Em 1870, quando a escravidão estava quase no final, Fortunato Pimentel,
em sua obra "Aspectos Gerais de Pelotas", cita 35 charqueadas e 2800
escravos, os quais trabalhavam muito. Os escravos das charqueadas
vestiam apenas um calção de algodão rústico, estavam sempre com as mãos e
os pés tingidos pelo sangue do gado. À noite, dormiam acorrentados em
senzalas. Na charqueada "São João", de Gonçalves Chaves, construída, em
l808, e conservada até hoje, a senzala ficava a uns 200m da residência
principal. Numa geminada à senzala morava o feitor, com sua chibata.
O senhor Chaves, tido como um dos charqueadores menos severo e mais
humano, tratava seus escravos com exagero de severidade. Nas paredes da
charqueada "São João", em Pelotas, ainda restam alguns instrumentos
utilizados no castigo a escravos. Eles podiam ser martirizados com uma
gargantilha de ferro ou grilhetas nos pés. Aqueles que não desistiam de
sonhar com a liberdade tinham a perna amarrada a uma bola de ferro (com
mais ou menos 20 Kg), presa por grossa corrente. Com isso, pode-se
imaginar o que os negros escravos passavam nas demais charqueadas, um
vez que o charqueador Gonçalves Chaves era um dos mais humanos.
Por ironia do destino, esses negros fabricavam carne seca para alimentar
escravos das fazendas de cana - de - açúcar do Nordeste do Brasil e de
outros países. Foi o braço negro que transformou Pelotas na então
"Princesa do Sul", a cidade mais aristocrática e capital da cultura do
Estado.
Os negros também serviam de escravos nas estâncias de criação de gado, e
assim tornaram-se hábeis cavaleiros, domadores, resistentes tropeiros
de mula para São Paulo e Minas Gerais, domésticos e guerreiros de
respeito.
Em 1867, o Coronel Brandsen, que serviu com Napoleão Bonaparte, invadiu
Bagé a serviço do exercito argentino, surpreendeu - se com a qualidade
das casas do povoado. Os escravos lutaram em todas as revoluções
enfrentadas pelo Rio Grande do Sul e Brasil. Todo o negro guerreiro era
rústico e disciplinado. Faziam a guerra a base de recursos locais.
Comiam se tivessem alimentos e dormiam em qualquer lugar, tendo como
teto o firmamento do Rio Grande do Sul. A maioria montava a cavalo quase
sempre em pelo.
Nas guerras de fronteira contra o Uruguai, Argentina e Paraguai, o negro serviu de "Bucha de canhão" e mostrou seu valor.
Na guerra dos Farrapos, o "corpo de Lanceiros Negros", comandados pelo
orgulhoso tenente Joaquim Teixeira Nunes, casou furor contra as forças
imperiais. O próprio Duque de Caxias reconheceu que David Canabarro
baseava sua maior força nos lanceiros negros. Na guerra do Paraguai, os
negros lutaram contra Solano Lopes.
O coronel Francisco Pereira de Macedo, então Visconde (depois Barão) do
"Cerro Formoso", criou uma banda musical integrada por negros, pois
gostava de ouvir óperas durante as refeições. Contratar o maestro Thomaz
do Patrocínio, irmão de José do Patrocínio, para instruir os escravos.
Esta cena pode parecer irreal para época, numa província quase
despovoada, mas aconteceu no município de Lavras do Sul. Bem afinada
essa banda abrilhantava solenidades e bailes de Lavras do Sul, Caçapava
do Sul e arredores.
Quando da visita de D. Pedro II ao RS, por ocasião por ocasião da tomada
de Uruguaiana, na Guerra do Paraguai, a banda de negros da estância do
Cerro Formoso, executou o Hino Nacional, para receber, com honrarias,
seu mais ilustre visitante, recém chegado do Rio de Janeiro.
Em 2 de dezembro de 1884, Santo Antonio das Lavras, município de
Caçapava do Sul, para comemorar o aniversário de D. Pedro II, libertou
seus escravos em massa. Foi no RS, mais precisamente em Pelotas, o maior
centro escravista do Estado, onde surgiu o primeiro jornal
abolicionista – "A DISCUSSÃO" de propriedade de Fernando Luis Osório, em
1881. Talvez fosse ele o primeiro, no império em negar-se a publicar
anúncios de vendas, fugas e aluguel de escravo.
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