Antes da chegada do branco, o índio
não usava qualquer tipo de cobertura. Quando muito, prendia os cabelos com fita
de couro ou de fibra vegetal que os castelhanos chamam de vincha. De resto, a
farta cabeleira protegia a cabeça do sol e da chuva.
Os portugueses trouxeram dois tipos
de chapéu: o de feltro, de copa alta, e o de palha, comumente chamado de
"abeiro". O chapéu de feltro era caro, usado normalmente por homens
de posse. O de palha (de arroz, de trigo ou de milho) era do homem comum e da
gurizada das estâncias. Militares, magistrados e pessoas importantes usavam até
a primeira metade do século 19 o chapéu bicórnio estilo napoleônico, conforme
descrição dos cronistas do passado e de pinturas de Jean-Baptiste Debret,
substituído depois pelo chapéu tricórnio.
Após a guerra do Paraguai, a copa
do chapéu de feltro vai se achatar e a aba do chapéu ficará mais larga, tomando
as formas que o chapéu campeiro gauchesco ostenta até hoje, invariavelmente
preso por um barbicacho que passava por baixo do queixo ou abaixo do lábio
inferior. O barbicacho surgiu pela necessidade de fixar o chapéu á cabeça
durante o ato de cavalgar, sobretudo nas galopadas. O chapéu do tropeiro sempre
foi característico: para não juntar água em caso de chuva, a copa era e ainda é
amassada em forma de pirâmide. O gaúcho da fronteira gosta de usar o chapéu de
feltro com abas mais ou menos retas, como o chapéu português do campino ribatejano.
Já o gaúcho serrano tradicionalmente usava o chapéu desabado na frente e atrás.
Depois do advento do cinema e do caubói, o gaúcho serrano passou a levantar as
abas do chapéu dos dois lados.
Mas o chapéu mais tipicamente gauchesco, o mais original, era o "chapéu pança de burro", cortado circularmente da barriga de um muar e amoldado, ainda fresco, na cabeça de um palanque. Com o uso, perdia o pêlo e tomava uma cor esbranquiçada, conforme aparece em quadros de Debret.
Origem: ZH Digital, coluna semanal de Nico
Fagundes publicada em 10 de setembro de 2007.
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