segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Aquífero Guarani

Aquífero Guarani é a principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e um dos maiores sistemas aquïferos do mundo, ocupando uma área total de 1,2 milhões de km² na Bacia do Paraná e parte da Bacia do Chaco-Paraná. Estende-se pelo Brasil (840.000 Km²), Paraguai (58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina, (255.000 Km²), área equivalente aos territórios de Inglaterra, França e Espanha juntas.Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total) abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O Aqüífero Guarani, denominação do geólogo uruguaio Danilo Anton em memória do povo indígena da região, tem uma área de recarga de 150.000 Km² e é constituído pelos sedimentos arenosos da Formação Pirambóia na Base (Formação Buena Vista na Argentina e Uruguai) e arenitos Botucatu no topo (Missiones no Paraguai,Tacuarembó no Uruguai e na Argentina).

 
O Aquífero Guarani constitui-se em uma importante reserva estratégica para o abastecimento da população, para o desenvolvimento das atividades econômicas e do lazer. Sua recarga natural anual (principalmente pelas chuvas) é de 160 Km³/ano, sendo que desta, 40 Km³/ano constitui o potencial explotável sem riscos para o sistema aqüífero. As águas em geral são de boa qualidade para o abastecimento público e outros usos, sendo que em sua porção confinada, os poços tem cerca de 1.500 m de profundidade e podem produzir vazões superiores a 700 m³/h.
No Estado de São Paulo, o Guarani é explorado por mais de 1000 poços e ocorre numa faixa no sentido sudoeste-nordeste. Sua área de recarga ocupa cerca de 17.000 Km² onde se encontram a maior parte dos poços. Esta área é a mais vulnerável e deve ser objeto de programas de planejamento e gestão ambiental permanentes para se evitar a contaminação da água subterrânea e sobrexplotação do aqüífero com o consequente rebaixamento do lençol freático e o impacto nos corpos d'água superficiais.
Por ser um aquífero de extensão continental com característica confinada, muitas vezes jorrante, sua dinâmica ainda é pouco conhecida, necessitando maiores estudos para seu entendimento, de forma a possibilitar uma utilização mais racional e o estabelecimento de estratégias de preservação mais eficientes.
Até hoje, muitos poços (figura ao lado) foram perfurados para a exploração da água subterrânea, sem a devida preocupação com sua proteção, sendo cada caso ou problema tratado isoladamente. Diante da demanda por água doce, faz-se necessário o entendimento amplo deste sistema hídrico de forma a gerenciar e proteger este recurso.
Para tanto, é necessário organizar os dados e sistemas existentes, de forma que seja possível integrar a utilização dos bancos de dados dos diversos países abrangidos pelo Aquífero Guarani e modelar a hidrodinâmica do sistema, permitindo identificar as áreas mais frágeis que deverão ser protegidas.

 





domingo, 11 de novembro de 2012

Zumbi líder do quilombo dos Palmares


Zumbi foi o grande líder do quilombo dos Palmares, respeitado herói da resistência antiescravagista. Pesquisas e estudos indicam que nasceu em 1655, sendo descendente de guerreiros angolanos. Em um dos povoados do quilombo, foi capturado quando garoto por soldados e entregue ao padre Antonio Melo, de Porto Calvo. Criado e educado por este padre, o futuro líder do Quilombo dos Palmares já tinha apreciável noção de Português e Latim aos 12 anos de idade, sendo batizado com o nome de Francisco. Padre Antônio Melo escreveu várias cartas a um amigo, exaltando a inteligência de Zumbi (Francisco). Em 1670, com quinze anos, Zumbi fugiu e voltou para o Quilombo. Tornou-se um dos líderes mais famosos de Palmares. "Zumbi" significa: a força do espírito presente. Baluarte da luta negra contra a escravidão, Zumbi foi o último chefe do Quilombo dos Palmares.
O nome Palmares foi dado pelos portugueses, em razão do grande número de palmeiras encontradas na região da Serra da Barriga, ao sul da capitania de Pernambuco, hoje, estado de Alagoas. Os que lá viviam chamavam o quilombo de Angola Janga (Angola Pequena). Palmares constituiu-se como abrigo não só de negros, mas também de brancos pobres, índios e mestiços extorquidos pelo colonizador. Os quilombos, que na língua banto significam "povoação", funcionavam como núcleos habitacionais e comerciais, além de local de resistência à escravidão, já que abrigavam escravos fugidos de fazendas. No Brasil, o mais famoso deles foi Palmares.
O Quilombo dos Palmares existiu por um período de quase cem anos, entre 1600 e 1695. No Quilombo de Palmares (o maior em extensão), viviam cerca de vinte mil habitantes. Nos engenhos e senzalas, Palmares era parecido com a Terra Prometida, e Zumbi, era tido como eterno e imortal, e era reconhecido como um protetor leal e corajoso. Zumbi era um extraordinário e talentoso dirigente militar. Explorava com inteligência as peculiaridades da região. No Quilombo de Palmares plantavam-se frutas, milho, mandioca, feijão, cana, legumes, batatas. Em meados do século XVII, calculavam-se cerca de onze povoados. A capital era Macaco, na Serra da Barriga.

 
A Domingos Jorge Velho, um bandeirante paulista, vulto de triste lembrança da história do Brasil, foi atribuído a tarefa de destruir Palmares. Para o domínio colonial, aniquilar Palmares era mais que um imperativo atribuído, era uma questão de honra. Em 1694, com uma legião de 9.000 homens, armados com canhões, Domingos Jorge Velho começou a empreitada que levaria à derrota de Macaco, principal povoado de Palmares. Segundo Paiva de Oliveira, Zumbi foi localizado no dia 20 de novembro de 1695, vítima da traição de Antônio Soares. “O corpo perfurado por balas e punhaladas foi levado a Porto Calvo. A sua cabeça foi decepada e remetida para Recife onde, foi coberta por sal fino e espetada em um poste até ser consumida pelo tempo”.
O Quilombo dos Palmares foi defendido no século XVII durante anos por Zumbi contra as expedições militares que pretendiam trazer os negros fugidos novamente para a escravidão. O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
A lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Nas escolas as aulas sobre os temas: História da África e dos africanos, luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, propiciarão o resgate das contribuições dos povos negros nas áreas social, econômica e política ao longo da história do país.

 

História do Dia Nacional da Consciência Negra


Esta data foi estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
A homenagem a Zumbi foi mais do que justa, pois este personagem histórico representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Ele morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Os quilombos representavam uma resistência ao sistema escravista e também um forma coletiva de manutenção da cultura africana aqui no Brasil. Zumbi lutou até a morte por esta cultura e pela liberdade do seu povo.

 
Importância da Data

 
A criação desta data foi importante, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Os negros africanos colaboraram muito, durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país. É um dia que devemos comemorar nas escolas, nos espaços culturais e em outros locais, valorizando a cultura afro-brasileira. 
A abolição da escravatura, de forma oficial, só veio em 1888. Porém, os negros sempre resistiram e lutaram contra a opressão e as injustiças advindas da escravidão. 
Vale dizer também que sempre ocorreu uma valorização dos personagens históricos de cor branca. Como se a história do Brasil tivesse sido construída somente pelos europeus e seus descendentes. Imperadores, navegadores, bandeirantes, líderes militares entre outros foram sempre considerados hérois nacionais. Agora temos a valorização de um líder negro em nossa história e, esperamos, que em breve outros personagens históricos de origem africana sejam valorizados por nosso povo e por nossa história. Passos importantes estão sendo tomados neste sentido, pois nas escolas brasileiras já é obrigatória a inclusão de disciplinas e conteúdos que visam estudar a história da África e a cultura afro-brasileira.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Santana do Livramento (29/06/1857) Uma festa para a criação da alfândega


     A criação da alfândega de Santana do Livramento foi saudada com fogos de artifício em 10 de outubro de 1900. Menos de quatro meses antes, a cidade não sabia se o seu comércio sobreviveria mais alguns dias. Foi preciso uma campanha pública que envolveu os grandes comerciantes e as autoridades do município para que um ato do governo fosse revisto em favor dos negócios locais. O recebimento de artigos europeus com preços vantajosos em Livramento sempre foi garantido pela proximidade do porto de Montevidéu. "As mercadorias faziam concorrência com as praças comerciais do litoral do Rio Grande", diz o historiador lvo Caggiani, 64 anos. Mais do que simples competidores, os empresários da fronteira eram taxados de contrabandistas pelos varejistas de Porto Alegre, Pelotas e outros centros importantes.

     A grita logo chegou aos ouvidos do ministro da Fazenda. Pressionado, ele resolveu limitar as zonas para a expedição de guias por parte das estações fiscais de fronteira. O choque paralisou a cidade e ressuscitou o contrabando de Rivera - a cidade uruguaia da fronteira - que havia sido quase dizimado desde a fundação da alfândega de Uruguaiana. Num passado não muito distante, Rivera colocava anualmente na província brasileira 3 mil contos de réis em mercadorias ilegais (cerca de 30 vezes o valor de uma boa casa).
"Sempre foi fácil importar pelo porto de Montevidéu e trazer os produtos por trem até Rivera", diz Caggiani. 
     
     As denúncias de contrabando e o fechamento das zonas de expedição das guias fiscais, que já durava 10 anos, calaram fundo nos brios dos comerciantes fronteiriços. Além de aumentar em pelo menos 20% o preço final das mercadorias (valor do frete), onerando empresários e consumidores, o Estado havia recriado com força a figura do contrabandista.
Para dar um fim às acusações e retomar os negócios, em 1898 o jornalista Albino Costa desencadeou um movimento que exigia do império o alfandegamento da Mesa de Rendas Federais.
No dia 6 de agosto do ano seguinte, o jornalista radicado no Rio de Janeiro mandava novidades por telegrama: "AIfandegamento concedido. Realizamos aspirações comércio. Parabéns. Albino Costa". Recebida com foguetes e bombas, a boa notícia chegava quase três anos depois de uma outra que acabou se concretizando apenas em 1900.

     No dia 14 de novembro de 1896, através do decreto 417, o governo havia criado a Alfândega de Livramento. Graças ao lobby de Porto Alegre e outra praças, o projeto não saiu do papel. Com o alfandegamento, a idéia voltou à tona. Dois meses mais tarde, os fogos voltaram a estourar na vizinha brasileira de Rivera.

Portugueses e espanhóis brigam por Sacramento

Assim como muitos municípios da fronteira sul, Santana do Livramento sofreu a expectativa de estar na mão de portugueses ou espanhóis de acordo com o soprar do vento. A Colônia do Santíssimo Sacramento, fundada em 22 de janeiro de 1680, foi o primeiro sinal de vida portuguesa no extremo sul do território em que a Coroa deitou posse. Foi também, durante quase um século, palco da disputa entre as duas nações européias. Sediada às margens do Rio da Prata, a povoação abrangia uma área imensa de terras (que atualmente englobaria o Uruguai e um pedaço do Rio Grande do Sul) incluindo ao norte a região de Livramento. Com a assinatura do Tratado de Madrid em 1750, a Colônia passou para a mão dos espanhóis ao ser trocada pelos Sete Povos das Missões.

A resistência dos guaranis fez com que as duas nações assinassem um novo acordo. O Tratado de El Pardo (l761) anulou o documento de Madrid e tudo voltou como estava antes de 1750. O vaivém se estendeu até o início do século 19, quando a distribuição de sesmarias e a passagem do Exército Pacificador (I 811/12) garantiu a definição da fronteira do Estado. A cidade de Colônia do Sacramento fica hoje a 177 quilômetros de Montevidéu. A antiga cidadela dos portugueses ocupava uma península a 48 quilômetros de Buenos Aires, na margem esquerda do Rio da Prata. 

Depois de ser restaurada pelo governo, recuperando o aspecto que possuía no século 18, no ano passado Colônia do Sacramento foi tombada pela Unesco como patrimônio histórico da humanidade. O historiador Barbosa Lessa relembra que, na época da chegada dos português para criar Sacramento, a região da chamada Banda dos Charruas (hoje República do Uruguai), era habitada apenas por avestruzes e por nômades índios charruas e minuanos.

Fonte: Material recolhido do fascículo especial do jornal Zero Hora, do dia 04/12/96, chamado "Origens do Rio Grande". Editado por Roberto Cohen em 20/11/2003.

Cronologia de Antônio Augusto Fagundes

Curso de Tradicionalismo Gaúcho     Martins Livreiro Editor, 1995 

 
1501   Caravelas portuguesas, primeiro e logo depois as espanholas começam a aparecer nas costas gaúchas, mas sem desembarque, porque as praias eram perigosas e não havia portos naturais.
1531   Os navegantes portugueses Martim Afonso de Souza e Pero Lopes, sem desembarcar nas praias gaúchas, batizam com o nome de Rio Gande de São Pedro a barra que vai permitir mais tarde a passagem de navios do Oceano Atlântico para a Lagoa dos Patos.
1626   O padre jesuíta Roque Gonzalez de Santa Cruz, nascido no Paraguai, atravessa o rio Uruguai e funda o povo de São Nicolau, assinalando oficialmente a chegada o homem branco ao território gaúcho.
1634   O padre jesuíta Cristobal de Mendonza Orellana (Cristóvão de Mendonza) introduzo gado nas Missões Orientais, o que vai justificar mais tarde o surgimento do gaúcho.
1641   Os jesuítas são expulsos do Rio Grande do Sul pelos bandeirantes, depois de fundarem 18 reduções ou povos. Essas aldeias foram todas arrasadas e o gado, um pouco foi escondido ba Vacara dos Pinhais, outro pouco levaram para a Argentina na sua fuga e a maior parte se esparramou, virando "chimarrão", que quer dizer selvagem. Graças ao padre Cristóvão Mendonza, esse gado, que não tinha marca nem sinal, ficou também chamado "orelhano".
1682   Os bandeirantes estão ocupados com o ouro e as pedras preciosas das Gerais, esquecendo os nossos índios. Voltam então os jesuítas espanhóis ao solo gaúcho, fundando primeiro São Francisco de Borja, hoje a cidade de São Borja, o mais antigo núcleo urbano do Rio Grande do Sul. Entre 1682 a 1701 eles fundaram 8 povos em território gaúcho, dos quais 7 prosperaram que se tornaram os 7 povos das Missões: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourença Martin, São João Batista e Santo ângelo Custódio.
1750   Assinado o Tratado de Madri entre Espanha e Portugal, pelo qual os portugueses dão aos espanhóis a Colônia de Sacramento e recebem em troca os 7 Povos das Missões. Os padres jesuítas espanhóis não se conformam com a troca e os índios missioneiros se revoltam. Vai começar a chamada Guerra das Missões.
1756   A 7 de fevereiro morre em uma escaramuça o índio José Tiarayu, o Sepé, junto a Sanga da Bica (hoje dentro do perímetro urbano de São Gabriel) morto pelas forças espanholas e portuguesas. Três dias mais tarde ocorre o massacre de Caiboaté (ainda no município de São Gabriel) onde, em uma hora e 10 minutos os exércitos de Espanha e Portugal mataram quase 1.500 índios e tiveram apenas 4 baixas. Em Caiboaté foi vencida a resistência missioneira definitivamente. Ao abandonarem as Missões, os jesuítas carregaram o que puderam e incendiaram lavouras, casas e até igrejas.
1763   Tropas espanholas invadem o Brasil, apoderando-se do Forte de Santa Tereza e da cidade de Rio Grande e de São José do Norte. No período de dominação espanhola começa a brilhar um herói autenticamente gaúcho: Rafael Pinto Bandeira.
1776   Os espanhóis são expulsos do Rio Grande. Mas o forte de Santa Tereza jamais foi recuperado. Hoje está em território uruguaio.
1780   Vindo do Ceará, o português José Pinto Martins funda em Pelotas a primeira charqueada com características empresariais. Logo as charqueadas vão ser decisivas na economia gaúcha. O negro entra maciçamente no RGS, como escravo das charqueadas.
1811   Pedro José Vieira, vulgo "Perico, el Bailarín", que era gaúcho de Viamão, acompanhado pelo uruguaio Venâncio Benavidez dá o Grito de Asencio, que é o primeiro grito da independência do Uruguai. Surge o grande herói uruguaio "José Artigas".
1815   Tropas brasileiras e portuguesas tomam Montevidéu anexando o Uruguai ao Brasil com o nome de Província Cisplatina.
1824    A 18 de julho desembarcam em Porto Alegre os primeiros 39 colonos alemães. A 25 de julho eles se instalam nas margens do rio dos Sinos, na Real Feitoria do Linho Cânhamo, hoje a cidade de São Leopoldo.
1835    Explode a Revolução Farroupilha. A 20 de setmbro, os revolucionários comandados por Bento Gonçalves tomam Porto Alegre, capital da Província. As causas são políticas, econômicas, sociais e militares. A Província de São Pedro do Rio Grande do Sul estava arrasada pelas guerras e praticamente abandonada pelo Império do Brasil, meio desgovernado depois da volta de Dom Pedro I a Portugal.
1836    A 11 de setembro o coronel farroupilha Antonio de Souza Neto, depois de estrondosa vitória sobre as forças imperiais brasileiras no Seival, proclama a República Rio-Grandense. Nesse mesmo ano Bento Gonçalves da Silva é aprisionado após a batalha da ilha do Fanfa e enviado com muitos oficiais farrapOS ao Rio de Janeiro e depois para o Forte do Mar, na Bahia. O governo da nova República se instala em Piratini e Bento Gonçalves da Silva é eleito presidente. Como está preso, assume em seu lugar José Gomes de Vasconcelos Jardim. Piratini é a Capital.
1837   Organiza-se o governo republicano. São nomeados Generais Antonio de Souza Neto, João Manoel de Lima e Silva, Bento Gonçalves da Silva e mais tarde David Canabarro, Bento Manoel Ribeiro e João Antonio da Silveira. Enquanto drou, a República Rio-grandense só teve estes seis Generais. Nesse mesmo ano, a maçonaria consegue dar fuga a Bento Gonçalves, que de volta ao Rio Grande assume a Presidência da República.
1939   A República parece consolidada, a marinha de guerra está sob o comando efetivo de José Garibaldi, corsário italiano trazido ao Rio Grande pelo Conde Livio Zambeccari, através da maçonaria. Os farrapos decidem levar a república ao Brasil. Um exército comandado por David Canabarro e apoiado pela Marinha de Garibaldi proclama em Santa Catarina e República Juliana. A capital da República Rio-grandense passa a ser Caçapava.
1841   A Capital da República Rio-Grandense passa a ser Alegrete, onde se instala a Assembléia Nacional constituinte.
1842   Bento Gonçalves da Silva, no começo deste ano, se bate em duelo com Onofre Pires, que morre em conseqüência dos ferimentos. Após o duelo Bento Gonçalves da Silva entrega o governo e o comando do exército republicano.
1845   A 28 de fevereiro os farrapos assinam a paz com o Império do Brasil no acampamento do Ponche Verde, em Dom Pedrito. O Rio Grande do Sul volta a fazer parte do Brasil.
1847   Morre Bento Gonçalves da Silva, em Pedras Brancas, hoje Guaíba. O grande herói gaúcho estava pobre e doente quando terminou a Guerra dos Farrapos.
1851   Antigos farrapos, ao lado de seus ex-inimigos, agora todos fazendo parte do exército imperial brasileiro, derrotam o ditador Rosas da Argentina.
1852   Nesse anos aparece a primeira pesquisa sobre o folclore gaúcho, uma coleção de vocábulos e frases organizados por Antonio Alvares Ferreira Coruja.
1857   Intelectuais gaúchos imigrados na Corte, fundam no Rio de Janeiro a primeira entidade tradicionalista gauchesca, a Sociedade Sul-rio-grandense, que existe até hoje.
1864   Os gaúchos tomam parte na invasão do Uruguai e na derrota de Oribe.
1865   Em conseqüência da guerra no Uruguai, o ditador paraguaio Francisco Solano Lopes, declarando guerra ao Brasil, invade o Rio Grande do Sul, em São Borja. Começa a chamada Guerra do Paraguai. Nesse mesmo ano o Brasil faz aliança com o novo governo uruguaio e com a Argentina e os paraguaios invasores são cercados em Uruguaiana, onde se rendem às tropas da Tríplice Aliança.
1868   Funda-se em Porto Alegre a Sociedade Partenon Literário, decisiva para o regionalismo gauchesco. Entre seus grandes nomes Caldre FIão, Apolinário Porto Alegre, Taveira Junior e Múcio Teixeira.
1868   Começa o movimento messiânico dos Muckers, em Sapiranga, liderado por Jacobina Maurer.
1870   Termina a Guerra do Paraguai com a morte de Francisco Solano Lopes. Mais de 1/3 das tropas brasileiras é constituído por gaúchos, inclusive velhor heróis de 35, como David Canabarro e Antonio de Souza Neto.
1874   Os Muckers, depois de três ataques do exército brasileiro e da Guarda Nacional, são finalmente afogados em um banho de sangue, vencida a sua resistêcia.
1875   Começa a imigração italiana no Rio Grande do Sul. COmo os imigrantes alemães jã tinham ocupado os férteis vales fluviais, os italianos passam a ocupar as encostas da Serra.
1880   Começa no Rio Grande do Sul a propaganda republicana brasileira, aproveitando os antigos símbolos do republicanismo farrapo.
1888   A abolição da escravatura é proclamada no Brasil quando já no Rio Grande do Sul não existiam mais escravos. O negro veio para o pampa em 1726, com a frota de João de Magalhães. O escravo foi mão-de-obra indispensável nas charqueadas. Como voluntário e liberto lutou com grande bravura na Revolução Farroupilha. Como escravo e bucha de canhão lutou galhardamente na Guerra do Paraguai. Um ds maiores heróis da marinha brasileira foi um fuzileiro negro, gaúcho de Rio Grande, chamado Marcílio Dias.
1889   É proclamada a República no Brasil. No Rio Grande do Sul o homem do momento é Júlio de Castilhos. O Partido Republicano Rio-grandense, que não esperava a proclamação tão cedo, não estava preparado para assumir o poder. O Rio Grande do Sul, com a República, deixa de ser Província e passa a ser Estado.
1893   Começa a Revolução Federalista contra o Governo Republicano chefiado por Júlio de Castilhos. Do lado dos revolucionários tomaram parte na Revolução de 93 muitos uruguaios, alguns dos quais do Departamento de San José, os chamados "Maragatos".  Aos poucos este termo foi sendo usado para designar todos os revolcionários que usavam como símbolo o lenço vermelho ao pescoço. Os guerrilheiros que lutaram a favor do governo usavam o lenço branco (mais raramente o verde) e usavam às vezes uma farda azul com gorro da mesma cor encimado por uma borla vermelha. Por isso, foram chamados de Pica-paus.
1894   Funda-se em Montevidéu, no circo dos irmãos Podestá, a Sociedade La Criolla, entidade tradicionalista que existe até hoje.
1895   Assinada a paz entre Pica-paus e Maragatos e termina a chamada Revolução de 93, que foi sangrenta e brutal, com muitas degolas.
1897   É finalmente vencida a resistência de Canudos, na Bahia, onde Antonio Conselheiro, com seus jagunços, estava enfrentando com êxito o exército brasileiro. A vitória só é alcançada com uma carga de lança dos cavalarianos gaúchos do Coronel Carlos Teles, de Bagé.
1898   Funda-se em Porto Alegre, a 22 de maio, o Grêmio Gaúcho, cujo grande líder é o Major João Cezimbra Jacques, que buscou a inspiração na Sociedade "La Criolla" de Montevidéu. O Grêmio foi a primeira entidade tradicionalista no Rio Grande do Sul. Existe até hoje, embora tenha perdido o seu caráter tradicionalista. Graças a seu pioneirismo, o Major João Cezimbra Jacques é hoje o Patrono do Tradicionalismo do Rio Grande do Sul.
1899   A 10 de setembro é fundada em Pelotas e União Gaúcha. Seu grande líder é o genial escritor Simões Lopes Neto. Depois de muitos anos a União paralizou as suas atividades e ressurgiu com atual surto tradicionalista adotando o nome União Gaúcha J. Simões Lopes.
1901   A 19 de outubro funda-se em Santa Maria o Grêmio Gaúcho, inspirado na entidade de mesmo nome fundada em Porto Alegre pelo santamariense Cezimbra Jacques.
1902   O movimento messiânico conhecido como "Os Monges do Pinheirinho", em Encantado é massacrado pela Brigada Militar.
1917   Funda-se o primeiro frigorífico no Rio Grande do Sul, aproveitando a oportunidade econômica aberta pela I Guerra Mundial Os frigoríficos, a rigor, vieram substituir as antigas charqueadas.
1923   No começo do ano a Aliança Liberal, chefiada por Assis Brasil, deflagra uma revolução contra o Governo Republicano de Borges de Medeiros. Novamente lutam nas coxilhas gaúchas maragatos e governistas, mas estes, agora, são chamads "chimangos". A paz só é alcançada no fim do ano no Castelo de Assis Brasil, em Pedras Altas, Pelotas.
1924   Jovens tenentes liderados pelo Capitão Luiz Carlos Prestes levantam mas Missões militares e civis contra o governo brasileiro, de Artur Bernardes. Vai começar a odisséia da Coluna Prestes. Poucos anos depois a Brigada Militar viajará até de navio para o nordeste brasileiro a fim de ajudar na caçada da "Coluna Prestes".
1926   A Coluna Prestes continua sua marca invicta pelos sertões brasileiros. Em Santa Maria, no RGS, os rimãos Etchegoyen levantam militares e civis em armas contra o governo. Apesar de vitórias iniciais o movimento se dissolve sem maiores conseqüências.
1928   Registram-se movimentos armados em Bom Jesus.
1930   Chimangos e maragatos marcham lado a lado na revolução que derruba o presidente brasileiro Washington Luiz e coloca no poder Getúlio Vargas. Os gaúchos amarram os cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, Capital da República.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Medicina campeira


Para curar machucadura
Nas lidas do campo é muito comum o gaúcho levar uma rodada. Quando isto acontece e há machucadura por dentro (interna), fazem-no beber, em seguida, um bom caneco de salmoura. Quando a machucadura é externa, friccionam o local com azeite de mocotó e sal misturado, enrolando-o com um pano.
Para curar quebradura (fratura)
Quando se trata de um braço ou de uma perna, encanam com talas de taquara. Antes de se colocar as talas, forram o membro ofendido com uma camada de toucinho. As talas vão por cima, e ao redor, sendo após amarradas firmemente. De quinze em quinze dias mudam as camadas de toucinho, até a soldadura completa da fratura.
Para estancar sangue
De um talho: pó de café em cima, o qual deve ser amarrado com uma tira de pano. Tratando-se de corte num dedo, basta amarrá-lo com uma palha de milho diretamente sobre o corte.
Para curar talho arruinado
Aplicar compressas quentes com água de creolina; evita a gangrena.
Para curar queimadura
Sendo de primeiro grau, urinar em cima da queimadura. Há também quem aplique, no local, bosta verde de gado vacum.
Para curar tosse comprida (coqueluche)
No ano de 1915, no município de São Francisco de Assis, um curandeiro utilizava o seguinte processo: Aparava bosta quente de vaca numa vasilha; despejava em cima água fervendo e, depois, ia coando num pano quantas vezes fossem necessárias para que a "chapoeirada" ficasse com coloração bem esbranquiçada. Neste ponto ia ministrando ao doente — seis colheres espaçadas durante o dia.
Para curar espasmo
O espasmo, contração involuntária e convulsiva dos músculos, pode ser proveniente da pessoa pegar correntes de ar ou se molhar com o corpo suado. Algumas vezes fica com os músculos faciais retorcidos e as pernas encolhidas. Para curá-la costumam ministrar um chá quente de abrofo (abrojo, em espanhol) espécie de planta muito abundante no "cercado" das casas de campo.
Para curar solitária
Tomar semente de abóbora esmagada ou torrada. Também retiram a amêndia e dão de comer às crianças.
Para curar azia
Três grãos de milho queimados no borralho; mastigá-los e engolir.
Para curar soluço
Tomar um copo de leite, de vaca preta, recém tirado.
Para curar câimbra de sangue
Tomar chá de romã
(...)
(Paz, Horácio. "Cousas do folclore sul-riograndense". Boletim da Comissão Catarinense de Folclore. Florianópolis, ano 6, nº 20-21, setembro-dezembro de 1954)

http://jangadabrasil.com.br/revista/setembro70/pn70009b.asp

Meteorologia popular


1. Nascer do sol muito vermelho é sinal de seca. Pôr-do-sol sobre uma barra escura de nuvens, sinal de chuva.
2. Céu muito estrelado e brilhante, prenuncia chuva; pouco estrelado, tempo bom, firme.
3. Lua nova quando está com os cornos voltados para cima, é sinal de tempo seco durante todo o mês, pois acredita-se que o quarto de lua governa as variações do tempo durante todo o mês. Quando aparece com os cornos voltados para baixo "está escorrida", logo, todo o mês será chuvoso.
4. Chovendo na "nova" de abril, o inverno será chuvoso; não chovendo, inverno seco. Chovendo na nova de setembro, o verão será chuvoso e bom para a agricultura e pecuária.
5. Lua cheia quando sai, some a chuva. Significa melhora de tempo.
6. Se o dia 15 de cada mês for bom, a primeira quinzena será toda sem chuva. Se o dia 17 também for sem chuva, toda a segunda quinzena será de tempo bom.
7. Quando chove na primeira terça-feira domês, todo o resto do mês será chuvoso; e o contrário, se o dia for bom.
8. Quando as rãs, à tarde, fazem "reco-reco" (coaxam), é sinal de chuva próxima.
9. Siriema (ave pernalta que vive nos campos) quando canta no baixo ou na canhada, prenuncia chuva; quando no alto da coxilha, estiagem prolongada.
10. Maduruvá preto, do campo, quando cruza a coxilha, em pelotão, está pressagiando chuva com temporal.
11. Dia de vento, em que o gado se agrupa e desce para o fundo da invernada, é sinal de temporal. Gado dormindo no alto da coxilha, sinal de tempo bom.

(Paz, Horácio. "Cousas do folclore sul-riograndense". Boletim da Comissão Catarinense de Folclore. Florianópolis, ano 6, nº 20-21, setembro-dezembro de 1954, p.72-73)

Origem do Cavalo no Brasil


Quando em 1493 realizou sua segunda viagem à ilha de São Domingos, Cristóvão Colombo foi o responsável pela introdução do cavalo na América.
Esposa de Martin Afonso de Souza, Ana Pimentel, foi quem trouxe o primeiro animal para a capitania de São Vicente no ano de 1534.
Após esse período, os registros de novas introduções de animal no país foram feitos em 1808, quando D.João VI veio para o Brasil e trouxe sua criação de cavalos da raça Alter Real, contribuindo com um importante papel no desenvolvimento das raças Mangalarga e Campolina, que estão entre os melhores animais brasileiros de sela.
As raças tipicamente nacionais desenvolvidas desde a época do Império são o Mangalarga, o Crioulo Brasileiro e o Campolino.
Todas as raças de cavalos são originadas da espécie Equus Caballus, porém existem mais de 100 raças de cavalos diferentes em todo o mundo.  

Texto Editado: Máira Daniela da Costa
Fonte: Revista Cavalos de Raça - Ano I nº 1

O Gaúcho e sua (nossa) origem


     Por volta de 1580, os cavalos abandonados na região do Prata em 1536 tinham se multiplicado aos milhares. Tanto que, em 1600, não podiam mais ser mais contados em suas gigantescas manadas. Os Pampas do Rio Grande, Uruguai e Argentina estavam povoados de cavalos chimarrões (cimarrones) e o povo que vivia nessa região, unida pela semelhança ambiental, se tornou um povo cavaleiro.

    A posterior introdução do gado chimarrão, que também tornou-se abundante e formou rebanhos de 40 milhões de cabeças (somando Rio Grande, Uruguai e Argentina), sedimenta esta cultura. A partir dali havia gado solto e sem dono em abundância para ser caçado com laço por aqueles que não queriam outra vida, com liberdade tão incomparável. O gado chimarrão era a base da alimentação e origem de produtos que seriam comercializados e/ou contrabandeados (na época, uma rebeldia contra os pesados impostos).

    Mas na origem da formação do gaúcho devem ser lembrados os índios pampeanos (nossos charruas e minuanos), que logo se adaptaram magnificamente ao cavalo (por volta de 1607). Sua miscigenação com o europeu fundiu as culturas ibérica e americana, e gerou os mozos perdidos (homens que optaram pela vida no pampa), sendo seu primeiro registro em 1617, já com chiripá, poncho e bota de garrão de potro (tendo esta indumentária uma evolução gradual e natural até por volta de 1865, com a substituição do chiripá pela bombacha, se estabilizando relativamente até agora).

    Índios, mozos perdidos, vagabundos do campo (1642), changadores (1700) e gaudérios foram os antecessores do gaúcho, de origem e comportamento bem semelhantes. Mas, afinal, em que momento começa a existir o gaúcho? É impossível passar a faca sobre este variado mosaico e separar as partes que em muitos momentos se sobrepõem. A palavra "gaúcho", entretanto, só aparece em crônicas de viajantes na América do Sul por volta de 1770. Demonstra uma nova adaptação, ou melhor, a culminação dos tipos anteriores, presente simultaneamente no Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina.

    O viajante francês Dreys, em observações entre 1817 e 1825 sobre o Rio Grande, assegura:
"Todos os exercícios de manejo e picaria dos mestres de equitação da Europa são familiares ao gaúcho, e alguns dos exercícios mais difíceis são mesmo entre eles divertimentos de crianças."

    Os hábitos dos antigos gaúchos, sejam eles alimentares, de vestuário, aperos e arreios dos cavalos, forma de domar cavalos, de laçar ou bolear, maneira figurada de falar, palavras utilizadas e música, entre outros, passam a ser assimilados pelas novas ondas de colonização açoriana (1752) que o continente de São Pedro do Rio Grande do Sul sofreu. A cultura de fora se rende à cultura local e adapta-se, transforma-se ou desaparece.

    Neste período, muitos gaúchos eram vaqueanos (conhecem a região nos seus mais mínimos detalhes) e guiavam viajantes e exércitos pelo pampa. Outros tocavam infindáveis tropas de gado por léguas sem fim. Havia ainda os carreteiros, que transportavam produtos cortando a região de todas as maneiras. Os antigos e primeiros gaúchos nômades (injustamente chamados de ladrões no período do gado cimarrão, época de enfrentamento de forças pela posse do gado sem dono) trabalhavam sazonalmente em fazendas (eram pouco exigentes e pareciam se divertir no trabalho mais duro - eram exímios laçadores, boleadores, carneadores e artesões de produtosde couro necessários a montaria) e influenciavam de forma espantosa os filhos dos colonos da campanha ou povoados por onde passavam.

Os gaúchos influenciaram o comportamento de toda a região. Sessenta anos após a chegada dos açorianos, Saint-Hilaire anotou em seu diário que seus descendentes não queriam outro modo de vida, muitas vezes contrariando a vontade de seus pais. Todos queriam ser como os gaúchos. Nota-se traços deste fato mesmo na rígida colônia alemã já em 1858, anotado por Avé-Lallemant. Para ele, "esses alemães demonstram nos campo traços de gaucharia, que se destaca no manejo do laço, condução da tropa e pelo modo de montar e destaca alemães aparecerem montados a cavalo, com elegantes ponchos listrados". Quando o inglês Luccock esteve no Rio Grande em 1808, a região estava completamente acriollada (ou agauchada): todos andavam a cavalo na região, independente de serem índios, soldados, escravos, peões, estancieiros, comerciantes, viajantes ou crianças. Logo todos se transformariam num povo único: o gaúcho.

    Em "Viagem ao Rio Grande do Sul", documento escrito em 1845 pelo belga A. Baguet, o autor fala de crianças com poucos anos cavalgando sem sela, a toda velocidade, descreve a forma como montam colocando o pé descalço no joelho do cavalo, a provação dos ventos da pradaria, a lealdade nas guerras, o costume da hospitalidade mesmo entre os mais pobres, a confiança humana nos vaqueanos, os principais costumes (o mate e suas propriedades e o churrasco), a exibição dos arreios com prata (feita até pelos vaqueanos mais simples), o impacto da imagem do pampa e a habilidade do gaúcho nas boleadeiras e no cavalo. Menciona à exaustão, com preciosas descrições, a habilidade do gaúcho com o cavalo, o qual considera o melhor cavaleiro do mundo junto aos índios.

Vejamos algumas observações de Dreys (1817-1825) sobre os rio-grandenses:
    " Independente dessas armas comuns aos militares, o rio-grandense traz consigo duas armas auxiliares peculiares, que somente os homens desta parte da América sabem manejar com habilidade: queremos falar do laço e das boleadeiras. Tem o rio-grandense contraído uma espécie de aliança com o cavalo, em virtude da qual é feito auxiliar indispensável da vida do homem, o cooperador assíduo de quase todos os seus movimentos. O rio-grandense folga em percorrer suas imensas planícies a cavalo. (...) A predileção que manifesta por seu cavalo não se contenta a admiti-lo como companheiro inseparável; ele se ocupa também em adorná-lo (...).

    Nas guerrilhas do Rio Grande empregadas contra o estrangeiro, adquiriram uma reputação de firmeza e de coragem que o inimigo não desconheceu. A coragem do rio-grandense é fria e perseverante(...).
    "Fazendo um parênteses, é bom lembrar que os gaúchos (considerando além do Rio Grande, os gaúchos do Uruguai e Argentina) foram a base utilizada na guerra em seus respectivos países, os quais lhes devem seja a independência, seja a manutenção das fronteiras - por exemplo: sem os gaúchos, basicamente rio-grandenses, Rosas, na Argentina, não teria caído). No Brasil o caso é exemplar: quem manteve as fronteiras ou lutou nas guerras foram os homens deste Estado, mesmo que os livros de história não lembrem disso.

    Sobre a honra dos rio-grandenses, Dreys afirmou que "Sua palavra é inviolável".
       Vários comentaram sobre a hospitalidade do rio-grandense/gaúcho, entre os quais Arsène Isabelle (1833):
    "A hospitalidade é ainda, entre a maioria, uma virtude que se pratica com generosidade. "

    No seu comportamento, o gaúcho antigo e o acriollado tinham respeito para quem os tratavam de forma gentil, tinham uma base ética (mesmo que rudimentar), eram impetuosos e peleadores (quando necessário), tinham certa atração pela guerra (desde que seja a cavalo - jamais à pé), atração pela montaria (que se manifesta em muitos enfeites, até de prata) e tradição, seja na indumentária, seja na forma de arrear os cavalos.

    A maneira de falar do gaúcho antigo chegou de forma impressionante até nossos dias. Mesmo nos maiores centros urbanos do Estado, dezenas de palavras oriundas da lida campeira continuam sendo usadas com significado paralelo ao original (apesar de que a quase totalidade das pessoas que as utilizam desconheçam esta origem).

    Também chegaram até nossos dias a música, os payadores e a poesia gaúcha (culta sim, mas derivada do canto homens do campo do passado).    Simões Lopes Neto no seu Cancioneiro Guasca, antologia da música popular gaúcha do passado, mostra a atenção que os habitantes do interior tinham pelo gaúcho. Muitas pessoas do interior, ainda hoje ligadas diretamente ou indiretamente ao campo, compõem músicas e fazem poesias e trovas a maneira (ou lembrando a vida) do gaúcho. Centenas de músicos de qualidade compõem letras e músicas campeiras (nem sempre com apoio da mídia local). Festas que lembram as habilidades do gaúcho (doma e laço, principalmente) são atração sempre que acontecem, mesmo nas zonas mais metropolitanas. Pesquisadores como Paixão Côrtes e Barbosa Lessa conseguiram recuperar muito da dança gaúcha.

Chegou também uma espécie de reminiscência da campanha e um sentimento de épico. Venera-se a planície. A base do comportamento do gaúcho (seu ethos) de forma geral chegou até os dias de hoje e influencia. Isto é um fato, pelo menos até 20 ou 30 anos atrás. Entretanto, a massificação proporcionada pela televisão e globalização (além de um antigo preconceito local à influencia gaúcha) ameaçam esta antiga homogeneidade de povo. O "ser gaúcho", ou seja, a manutenção de características mínimas de identificação, tais como gosto pela música nativa, pela literatura regional ou manutenção do comportamental básico (combatividade era uma das características) passa a ser visto por intelectuais (rio-grandenses, pasmem!) como "negativa" e atrasada. Estes intelectuais, com marcada visão etnocêntrica, não consideram que expressam seu modo urbano (ou globalizado?) de ver. Contraditoriamente, estes mesmos intelectuais concordam que devem ser respeitada as culturas regionais de outros locais.

    No mundo inteiro, incluindo sobremaneira a Europa e os Estados Unidos, festas regionais reforçam suas certezas sobre suas origens, como comportar-se frente às adversidades e planejar o futuro. Saberem quem são. Este é o sentido de conhecer o passado, afinal "É tão grave esquecer-se no passado como esquecer o passado. Nos dois casos desaparece a possibilidade de história".

Autor: Evaldo Muñoz Braz - e-mail: embraz.voy@terra.com.br

Texto para Trabalho do Projeto Articulação.


Projeto Articulação Ensino Fundamental 2011

1ª PARTE - LEITURA
Leia o texto com atenção e responda às perguntas.


O último brasileiro
A 50 metros do Uruguai, escultor enfrenta baixa temperatura, mas prefere viver "numa solidão povoada de imagens".

O quintal da casa onde vive o escultor Hamilton Coelho estende-se até as margens do arroio Chuí, riacho conhecido da comunidade científica por seus depósitos de fósseis pré-históricos. Saindo pelo portão de madeira e caminhando menos de 100 passos para a esquerda, este gaúcho de 43 anos chega, a pé, a outro país. Há cinco anos vivendo no vilarejo de Barra do Chuí (RS), ponto mais meridional do território nacional, Hamilton é o último morador do Brasil. Depois dele, começa o Uruguai.
Os fundos do terreno vão até o oceano Atlântico, mar aberto. Ao norte, espalha-se o pampa gaúcho. Quando chegou ao local, numa quinta-feira de 1994, Hamilton lembra que o vento gélido zumbia nas orelhas. Achou que o lugar era muito especial e resolveu ficar.
Mas o impulso maior que o levou a fixar nova residência foi o de permanecer mais próximo da matéria-prima das suas esculturas. Artista conhecido no Rio Grande do Sul por suas enormes instalações com fragmentos de ossos de baleia, Hamilton agora não tem tantas dificuldades para encontrar pedaços de mandíbulas, crânio ou vértebras desses gigantescos mamíferos.
– Gosto de ir a São Paulo, de vez em quando, ver uma Bienal de Artes, assistir a um show ou a uma peça de teatro. Mas não moraria lá. Aqui tenho peixe à vontade, é só jogar a rede. Vivo nessa solidão povoada de imagens.
Barba cerrada, mãos grossas, calejadas, carregando uma enorme vértebra de baleia pela praia, Hamilton parece um personagem perdido no tempo. Mas, apesar de encravado no extremo sul do país, ele não tem nada de ermitão. Ao lado do fogão a lenha, possui telefone rural e uma tevê, quase nunca ligada. Nascido em Santa Vitória do Palmar, filho de imigrantes italianos, tradicionais artesãos, Hamilton graduou-se em Escultura e Gravura na Universidade Federal de Pelotas e especializou-se na matéria-prima oferecida pela própria natureza: além dos fragmentos de ossos, usa restos de naufrágios. Boa parte da madeira utilizada no ateliê-residência veio do casco do navio uruguaio Dona Yayá, que naufragou na costa gaúcha.
– Sou um reciclador de sucatas. Além disso, meu trabalho tem um sentido de protesto ecológico.
Extremamente fria e inóspita durante o inverno, a região se transforma num frequentadíssimo balneário nas temporadas de verão. Centenas de milhares de uruguaios atravessam a ponte internacional para somarem-se aos brasileiros que vão se banhar nas águas do Atlântico. Chegam atraídos também pela beleza dos pampas e pela Estação Ecológica do Taim, que abriga um sem-número de aves, mamíferos e répteis. O movimento intenso se traduz em transtorno para o pacato Hamilton Coelho. "Quando canso do Brasil, simplesmente mudo de país por algumas horas. Para mim, é fácil: basta atravessar a ponte sobre o arroio Chuí", brinca.

http://www.istoe.com.br/reportagens/33113_O+ULTIMO+BRASILEIRO


terça-feira, 28 de agosto de 2012

CHARLA DE MATEADOR Autor Jayme Caetano Braun

Ah! Mate amargo bendito
que tenteio reverente,
o passado e o presente
passam    ente mim, contrito,
aqui matiando solito
junto do meu cusco baio,
quero sair mas não saio,
do peso desta agonia,
como Confúcio diria:
o mundo velho é um balaio...

E, dentro dele, eu me vejo,
no barro de uma mangueira,
quando apojava tambeira,
tirando leite pra queijo
e de falquejo em falquejo,
repisando trajetória,
trago vivos na memória
os arrepios que sentia,
quando ouvia e aprendia
os “causos” da nossa história.

Ah, Centauros que riscaram
as marcas da nossa linha,
desta pátria que era minha,
e os ancestrais nos legaram
e que agora hipotecaram,
por má-fé ou falta de senso!
olho o tempo, quieto, imenso,
tão presente e sempre antigo,
e passo a remoer comigo,
tudo o que sinto e que penso!

Meu cusco de patas juntas,
debruçado no borralho,
como eu, joga baralho,
com recordações defuntas,
como a fazer-me perguntas,
silencioso, de mãos postas,
eu não posso dar-lhe as costas,
a um amigo, não se mente,
fico mateando, somente,
porque não tenho resposta,...

E aqui neste lusco-fusco,
de silêncio e de fumaça,
me enternece e me congraça,
a ternura do meu cusco,
e até compara-lo, busco,
no fundo do pensamento,
com as máguas e o sofrimento
dos humanos que se ofendem,
se matam, se desentendem,
por falta de sentimento.

E chego a entender, em parte,
a religião que comungo,
um pago, um cusco, um matungo,
uma china, um estandarte,
e por que o Rio Grande é parte
do Brasil, no todo imenso,
eu sou brasileiro, penso,
e, ao mesmo tempo, não sou,
ainda ninguém me explicou:
o pingo, a bandeira, o lenço...

http://www.juntandorimas.com/poesias/jayme/charlademateador.htm

Arroz de Carreteiro Jayme Caetano Braum

Nobre cardápio crioulo das primitivas jornadas,
Nascido nas carreteadas do Rio Grande abarbarado,
Por certo nisso inspirado, o xiru velho campeiro
Te batizou de "Carreteiro", meu velho arroz com guisado.

Não tem mistério o feitio dessa iguaria bagual,
É xarque - arroz - graxa - sal
É água pura em quantidade.
Meta fogo de verdade na panela cascurrenta.
Alho - cebola ou pimenta, isso conforme a vontade.

Não tem luxo - é tudo simples, pra fazer um carreiteiro.
Se fica algum "marinheiro" de vereda vem à tona.
Bote - se houver - manjerona, que dá um gostito melhor
Tapiando o amargo do suor que -
às vezes, vem da carona.

Pois em cima desse traste de uso tão abarbarado,
É onde se corta o guisado ligeirito - com destreza.
Prato rude - com certeza,
mas quando ferve em voz rouca
Deixa com água na boca a mais dengosa princesa.

Ah! Que saudades eu tenho
dos tempos em que tropeava
Quando de volta me apeava
num fogão rumbeando o cheiro
E por ali - tarimbeiro, cansado de bater casco,
Me esquecia do churrasco saboreando um carreteiro.

Em quanto pouso cheguei de pingo pelo cabresto,
Na falta de outro pretexto indagando algum atalho,
Mas sempre ao ver o borralho onde a panela fervia
Eu cá comigo dizia: chegou de passar trabalho.

Por isso - meu prato xucro, eu me paro acabrunhado
Ao te ver falsificado na cozinha do povoeiro
Desvirtuado por dinheiro à tradição gauchesca,
Guisado de carne fresca, não é arroz de carreteiro.

Hoje te matam à Mingua, em palácio e restaurante
Mas não há quem te suplante,
nem que o mundo se derreta,
Se és feito em panela preta, servido em prato de lata
Bombeando a lua de prata sob a quincha da carreta!

Por isso, quando eu chegar,
nalgum fogão do além-vida,
Se lá não houver comida já pedi a Deus por consolo,
Que junto ao fogão crioulo,

Quando for escurecendo, meu mate -amargo sorvendo,
A cavalo nalgum tronco, escute, ao menos, o ronco
De um "Carreteiro" fervendo.


http://www.juntandorimas.com/poesias/jayme/arrozdecarreteiro.htm

Amargo Jayme Caetano Braum

Velha infusão gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vazilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina,
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma china!

A velha bomba prateada
Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincão de tapera!

Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história,
E repassando a memória
Vejo tropilhas de um pêlo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!

Nessa lagoa parada
Cheia de paus e de espuma
Vão cruzando uma, por uma,
Antepassadas visões
Fandangos e marcações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!

Sangue verde do meu pago
Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!

Gaudéria essência charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer,
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça!!! 


http://www.juntandorimas.com/poesias/jayme/amargo.htm

MATEANDO Glaucus Saraiva

Quando a saudade maleva
Guasqueia forte o meu lombo
De supetão dou-lhe o tombo
E espanto a guecha algariada,
Numa charlita animada
Com a boca de meu porongo.

 Muitas vezes, tironeando,
Busco a sombra do galpão
Vou remechendo um tição
Acordo as brasas soprando,
E a chama vai levantando
Do "pai-de-fogo" no chão.

Chego a brasa no crioulo,
Depois encosto a chaleira,
Vou direito à prateleira
E com carinho destampo
A lata, cheiro de campo,
Da erva boa da Palmeira.

Palmeio o velho porongo,
Derramo a erva com jeito,
Encosto a cuia no peito,
Batendo a erva pra um lado,
Com os dedos enconchados
Formo um topete bem feito

Com um pouquinho de água morna
Que despejo com cuidado,
Tenho o amargo ajeitado
Que ponho a um canto, pra inchar
Espero a água esquentar
Pitando um baio sovado.

A pava chiou no fogo,
encho a cuia que promete
A espuma se arremete
Vem pra cima borbulhando
E acariciante, beijando
Engrinaldeia o topete.

Agarro a bomba de prata
Tapo o bocal com o dedão,
Calço o bojo no chão
Da cuia e vou destampando
Um pouco do chimarrão.


Derramo outro tanto d’água,
O que ainda aumenta o calor
E o mate confortador
Vou sorvendo em trago largo,
Pois me saiu um amargo
Despachado e roncador
  
Encho outra vez o porongo
Vou tragueando lentamente
E escuto nitidamente,
Como um chamado ancestral,
Um murmúrio paternal
Falando na seiva quente:

"Meu filho, levanta a testa,
Porque a vida é um desafio
Se o teu presente é sombrio
E já sentes, mermando,
Teu coração balanceando
Dentro do peito vazio.

Se amores e ideais alçadas
Muito te custa esquecer
E se estás a envelhecer
A mocidade chorando
Não esquece que, lamentando
Jamais o fará volver.

Se pelecharam teus sonhos
Amananciados em criança;
Se assististe à matança
De tua última ilusão,
Nota bem o chimarrão
Tem o verde da esperança.

FILHO DO PAMPA Glaucus Saraiva

Nasci num berço de capim rasteiro,
pastorejado pelo avô charrua!
Abri os ulmões ao sopro do pampeiro
que acariciava as minhas carnes nuas...

Mamei no seio verde da oxilha
em meu primeiro beijo filial,
acalentado à voz de farroupilhas,
embalado no lombo de um bagual.

E os primeiros sons deste meu peito
foi minha mãe - amor de mãe perfeito,
que ensinou, fitando o céu azul:

"Meu filho...Padre-nosso, Ave-Maria"
- e com a voz embargada repetia:
"Ave-Maria...e Rio Grande do Sul!!!"

http://www.juntandorimas.com/poesias/glaucus/filhodopampa.htm