Projeto Articulação Ensino Fundamental 2011
1ª PARTE - LEITURA
Leia o
texto com atenção e responda às perguntas.
O último brasileiro
A 50
metros do Uruguai, escultor enfrenta baixa temperatura, mas prefere viver
"numa solidão povoada de imagens".
O quintal da casa onde vive o
escultor Hamilton Coelho estende-se até as margens do arroio Chuí, riacho
conhecido da comunidade científica por seus depósitos de fósseis
pré-históricos. Saindo pelo portão de madeira e caminhando menos de 100 passos
para a esquerda, este gaúcho de 43 anos chega, a pé, a outro país. Há cinco
anos vivendo no vilarejo de Barra do Chuí (RS), ponto mais meridional do
território nacional, Hamilton é o último morador do Brasil. Depois dele, começa
o Uruguai.
Os fundos do terreno vão até o
oceano Atlântico, mar aberto. Ao norte, espalha-se o pampa gaúcho. Quando
chegou ao local, numa quinta-feira de 1994, Hamilton lembra que o vento gélido
zumbia nas orelhas. Achou que o lugar era muito especial e resolveu ficar.
Mas o impulso maior que o levou a
fixar nova residência foi o de permanecer mais próximo da matéria-prima das
suas esculturas. Artista conhecido no Rio Grande do Sul por suas enormes
instalações com fragmentos de ossos de baleia, Hamilton agora não tem tantas
dificuldades para encontrar pedaços de mandíbulas, crânio ou vértebras desses
gigantescos mamíferos.
– Gosto de ir a São Paulo, de vez em
quando, ver uma Bienal de Artes, assistir a um show ou a uma peça de teatro.
Mas não moraria lá. Aqui tenho peixe à vontade, é só jogar a rede. Vivo nessa
solidão povoada de imagens.
Barba cerrada, mãos grossas,
calejadas, carregando uma enorme vértebra de baleia pela praia, Hamilton parece
um personagem perdido no tempo. Mas, apesar de encravado no extremo sul do
país, ele não tem nada de ermitão. Ao lado do fogão a lenha, possui telefone
rural e uma tevê, quase nunca ligada. Nascido em Santa Vitória do Palmar, filho
de imigrantes italianos, tradicionais artesãos, Hamilton graduou-se em
Escultura e Gravura na Universidade Federal de Pelotas e especializou-se na
matéria-prima oferecida pela própria natureza: além dos fragmentos de ossos,
usa restos de naufrágios. Boa parte da madeira utilizada no ateliê-residência
veio do casco do navio uruguaio Dona Yayá, que naufragou na costa gaúcha.
– Sou um reciclador de sucatas. Além
disso, meu trabalho tem um sentido de protesto ecológico.
Extremamente fria e inóspita durante
o inverno, a região se transforma num frequentadíssimo balneário nas temporadas
de verão. Centenas de milhares de uruguaios atravessam a ponte internacional
para somarem-se aos brasileiros que vão se banhar nas águas do Atlântico.
Chegam atraídos também pela beleza dos pampas e pela Estação Ecológica do Taim,
que abriga um sem-número de aves, mamíferos e répteis. O movimento intenso se
traduz em transtorno para o pacato Hamilton Coelho. "Quando canso do
Brasil, simplesmente mudo de país por algumas horas. Para mim, é fácil: basta
atravessar a ponte sobre o arroio Chuí", brinca.
http://www.istoe.com.br/reportagens/33113_O+ULTIMO+BRASILEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário