quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Texto para Trabalho do Projeto Articulação.


Projeto Articulação Ensino Fundamental 2011

1ª PARTE - LEITURA
Leia o texto com atenção e responda às perguntas.


O último brasileiro
A 50 metros do Uruguai, escultor enfrenta baixa temperatura, mas prefere viver "numa solidão povoada de imagens".

O quintal da casa onde vive o escultor Hamilton Coelho estende-se até as margens do arroio Chuí, riacho conhecido da comunidade científica por seus depósitos de fósseis pré-históricos. Saindo pelo portão de madeira e caminhando menos de 100 passos para a esquerda, este gaúcho de 43 anos chega, a pé, a outro país. Há cinco anos vivendo no vilarejo de Barra do Chuí (RS), ponto mais meridional do território nacional, Hamilton é o último morador do Brasil. Depois dele, começa o Uruguai.
Os fundos do terreno vão até o oceano Atlântico, mar aberto. Ao norte, espalha-se o pampa gaúcho. Quando chegou ao local, numa quinta-feira de 1994, Hamilton lembra que o vento gélido zumbia nas orelhas. Achou que o lugar era muito especial e resolveu ficar.
Mas o impulso maior que o levou a fixar nova residência foi o de permanecer mais próximo da matéria-prima das suas esculturas. Artista conhecido no Rio Grande do Sul por suas enormes instalações com fragmentos de ossos de baleia, Hamilton agora não tem tantas dificuldades para encontrar pedaços de mandíbulas, crânio ou vértebras desses gigantescos mamíferos.
– Gosto de ir a São Paulo, de vez em quando, ver uma Bienal de Artes, assistir a um show ou a uma peça de teatro. Mas não moraria lá. Aqui tenho peixe à vontade, é só jogar a rede. Vivo nessa solidão povoada de imagens.
Barba cerrada, mãos grossas, calejadas, carregando uma enorme vértebra de baleia pela praia, Hamilton parece um personagem perdido no tempo. Mas, apesar de encravado no extremo sul do país, ele não tem nada de ermitão. Ao lado do fogão a lenha, possui telefone rural e uma tevê, quase nunca ligada. Nascido em Santa Vitória do Palmar, filho de imigrantes italianos, tradicionais artesãos, Hamilton graduou-se em Escultura e Gravura na Universidade Federal de Pelotas e especializou-se na matéria-prima oferecida pela própria natureza: além dos fragmentos de ossos, usa restos de naufrágios. Boa parte da madeira utilizada no ateliê-residência veio do casco do navio uruguaio Dona Yayá, que naufragou na costa gaúcha.
– Sou um reciclador de sucatas. Além disso, meu trabalho tem um sentido de protesto ecológico.
Extremamente fria e inóspita durante o inverno, a região se transforma num frequentadíssimo balneário nas temporadas de verão. Centenas de milhares de uruguaios atravessam a ponte internacional para somarem-se aos brasileiros que vão se banhar nas águas do Atlântico. Chegam atraídos também pela beleza dos pampas e pela Estação Ecológica do Taim, que abriga um sem-número de aves, mamíferos e répteis. O movimento intenso se traduz em transtorno para o pacato Hamilton Coelho. "Quando canso do Brasil, simplesmente mudo de país por algumas horas. Para mim, é fácil: basta atravessar a ponte sobre o arroio Chuí", brinca.

http://www.istoe.com.br/reportagens/33113_O+ULTIMO+BRASILEIRO


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